top of page

A tradição da cavalaria polonesa sobreviveu a 125 anos de ocupação estrangeira, e quando a nação finalmente tornou-se independente, em 11 de novembro de 1918, uma nova cavalaria polonesa surgiu. Meros 18 meses depois, seus sucessos já estavam sendo aclamados: em agosto de 1920 ela lançou um ataque surpresa na cavalaria vermelha do marechal Budenny, que tinha atingido os subúrbios de Varsóvia e estavam avançando em direção a Thorn. A intervenção da cavalaria salvou a Polônia.

Havia 37 regimentos – em oposição a 90 regimentos de infantaria – um bom indicativo da importância dada ao cavalo e seu cavaleiro no Vístula, daquele ponto em diante. De fato, a cavalaria polonesa era um serviço estratégico totalmente autônomo. Contudo, de forma paradoxal, não havia uma doutrina atualizada para gerenciar o uso de unidades de cavala-ria, das quais havia tantas. A infantaria, por exemplo, ao invés de receber a missão de defender uma posição, era lançada em uma grande variedade de manobras móveis, apesar de não ser motorizada; enquanto isso, a cavalaria, altamente móvel, seria usada em tarefas de defesa, onde sua manobrabilidade superior era inútil. O segundo erro grave era que a cavalaria não era organizada em grandes unidades – em divisões, por exemplo – que poderia dar a ela um significativo poder de combate. Pelo contrário, as brigadas existentes eram enfraquecidas pelo uso de destacamentos de regimentos inteiros para tarefas secun-dárias. Todas 11 brigadas de cavalaria estavam concentradas ao longo da fronteira com a Alemanha. O grosso da cavalaria polonesa, cerca de 70.000 cavaleiros, estava espalhado por todo a enorme frente e, em conseqüência, não podia assumir nem uma função estraté-gica nem um papel tático em 1939. A única exceção era a Wolynska Brygada Kawale-rii [Exército de Lodz].

O poder de fogo de um regimento de cavalaria era equivalente a de um batalhão de infan-taria, mas a cavalaria não tinha morteiros. Em números, um regimento de cavalaria des-montado tinha a força de duas companhias de infantaria. O serviço militar na cavalaria durava 23 meses. Os oficiais de cavalaria eram recrutados entre as classes latifundiárias.



Uma característica histórica sobrevivente da cavalaria polonesa era o uso de cavalos da raça Árabe e a lança – uma arma de golpe consistindo de uma haste tubular metálica com cerca de três metros de comprimento com um fiel de couro, pesando cerca de 2,10 kg. Abaixo de sua afiada ponta de quatro gumes ficava uma pequena bandeirola, com cerca de 20 cm de largura e 50 de compri-mento, com as cores regimentais [nota da moderação: a influência dos lanceiros poloneses é tal que mesmo a cavalaria brasileira usa as cores da Polônia – branco e vermelho – nas bandeirolas de suas lanças]. A lança não era usada como arma, mesmo em manobras, desde 1934, e depois de abolida só era carregada nos carroções da bagagem. De forma estranha, as tropas de cavalaria a readotaram esta arma aparentemente obsoleta nos cam-pos de batalha de 1939. Somando-se a ela, cada cavalariano tinha um fuzil, um sabre, uma baioneta, uma pequena ferramenta de sapa (pá), máscara de gás, mochila, apetrechos de cozinha e um capacete de aço francês redondo [modelo Adrian]. Oficiais e suboficiais podiam ser reconhecidos de soslaio por suas botas de montaria de corte elegante, que provaram ser uma forma clara de identificação para os atiradores de precisão alemães. As selas da cavalaria e da artilharia a cavalo muitas vezes datavam dos dias da velha monar-quia.

A cavalaria polonesa foi a última força completa estratégica montada a manter sua forma original. E com o fim da guerra germano-polonesa de 1939, veio o abandono de uma força que era diferente apenas em detalhes das unidades de cavalaria do século XIX. A profunda lealdade dos soldados a seus regimentos e as longas tradições regimentais tornavam a cavalaria a arma mais respeitada nas forças polonesas.

A primeira carga

Ao iniciar a guerra, o exército polonês que, teoricamente, era uma força potente tinha planos de atacar a Alemanha em caso de guerra. Por exemplo, a brigada de cavalaria Podolska, parte do Exército de Poznan, tinha como objetivo teórico o ataque a Berlim.

Entre as forças com funções de ataque, estava a brigada de cavalaria Pomorska (Pormoska Brygada Kawalalerii), do exército de Pomorze (Pomerânia), estaciona-da no corredor polonês e formada pelo 16º Regimento de Ulanos (tradicional cavalaria ligeira, lanceiros, da polônia) – “Wielkopolskich”, pelo 18º Regimento de Ulanos “Po-morskich”, pelo 8º Regimento de Infantaria Montada, pelo 11º Regimento de Artilharia Montada e pelo 2º Batalhão de Infantaria Ligeira. Esta tinha força tinha ordens de dar um golpe de mão contra a cidade livre de Danzig. Contudo, a rapidez da invasão alemã impe-diria qualquer ação ofensiva.

Ao meio dia de 1º de setembro, no assim chamado Corredor Polonês, a 20ª Divisão Moto-rizada Alemã estava no seu caminho para o oriente, em direção a Chojmice. Por volta de 2 da tarde, havia um forte combate entre a vanguarda da divisão e o 18º Regimento de Ula-nos poloneses, da brigada de cavalaria “Pomorska”, ao longo da linha férrea entre Chojni-ce e Naklo. Os ulanos receberem ordem de contra-atacar, para permitir que sua própria infantaria pudesse recuar. No bosques próximos a vila de Krojanty, os cavaleiros se orga-nizaram em ordem aberta. Foi no final da tarde quando do 1º Esquadrão do 18º Regimento de ulanos apareceu no flanco das colunas alemãs. Quando o ajudante do regimento, Capi-tão Godlewski, ouviu a ordem para atacar, ele perguntou se não seria melhor a cavalaria desmontar antes de atacar. “Jovem”, disse o comandante do regimento, Coronel Masta-lerz, “sei bem o que é obedecer uma ordem impossível de ser cumprida”.

Por volta das 17:00, o major Malecki levantou seu sabre e, com este sinal, a cavalaria lançou seu assalto – a primeira carga de cavalaria da Segunda Guerra Mundial.

Mesmo antes de deixar o bosque, eles começaram a sofrer o fogo de metralhadoras da vanguarda alemã. A cadeia de cavaleiros colocou seus cavalos a trote, então a galope – movendo-se rapidamente para frente e para longe do campo aberto, com sua pouca co-bertura. Bem curvados sobre os pescoços de seus cavalos, carregaram com seus pesados sabres de cavalaria mantidos retos a frente. Os primeiros mortos e feridos caíram de seus cavalos. A despeito disto, o ímpeto da carga cresceu, mais ainda quando o 2º esquadrão juntou-se ao ataque. Uma ampla onda de cavalaria, composta de cerca de 250 homens, rompeu pelo campo aberto, sabres brilhando ao sol; a infantaria alemã, pega de surpresa, tentou salvar-se recuando. De repente, pela curva da rodovia, uma longa coluna de tanques e tropas motorizadas apareceu. Inicialmente, no calor da refrega, ela passou despercebida pelos ulanos. Os poloneses foram então atingidos por uma chuva de fogo partindo dos carros blindados e, antes que fossem capazes de fazer a volta com seus cavalos, a carnifi-cina começou. Cavalos tombavam, enquanto outros disparavam, puxando seus cavaleiros pelos estribos com eles. Figuras em uniformes caqui caiam de suas selas. Um baixo toque de clarim foi ouvido, acompanhando os gemidos de angústia dos feridos. Aqui e ali, gru-pos isolados de cavaleiros voavam pelo campo, e montes escuros estavam caídos ao longo da estrada. Montarias sem cavaleiros corriam pelos campos, seus estribos balançando soltos e suas rédeas abananado. O capitão Swiesciak, que tinha liderado a carga, caiu ao solo com seu cavalo, e o comandante regimental, coronel Mastalerz, foi morto enquanto corria para ajudá-lo com alguns ulanos. No espaço de alguns momentos, metade dos ulanos tinha sido atingida.

Com esta carga de cavalaria em Krojanty, em 1º de setembro de 1939, nasceu a lenda da cavalaria polonesa, armada só com sabres, desafiando os panzers alemães. Mas, na verda-de, deve ser dito que os ulanos poloneses não buscavam o suicídio, nem que era um mo-vimento deliberado da parte deles lançar um ataque direto contra tanques. Mais tarde na guerra, é desnecessário dizer, houve vários outros ataques feitos contra a infantaria alemã, que levaram os alemães a chamarem o apoio de tanques; e ainda mais, houve alguns casos da cavalaria polonesa ter sido atacada por tanques. Mas para os ulanos em Krojanty, a única chance de sobrevivência era tentar uma manobra arriscada, tão rápido quanto possí-vel, de forma a passarem pela coluna inimiga. Não esperavam que a coluna blindada alemã aparecesse no campo de batalha e quando ela o fez, foram totalmente surpreendi-dos. De agora em diante, as forças de cavalaria polonesas tinham encontrado um oponente capaz de derrotá-la.

bottom of page